quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012


MUTISMO SELETIVO (Entrevista concedida a Revista Crescer)
Dra Elisa Maria Neiva de Lima Vieira - Psicóloga Clínica
Crianças mais quietinhas e que se não conseguem falar na presença de estranhos ou de pessoas  fora do círculo familiar geralmente podem ser consideradas somente como tímidas. Quando essa timidez atinge um grau extremo, esse comportamento excessivamente retraído também pode atrapalhar a formação e desempenho escolar das crianças.
É o caso da menina M., de 14 anos, que começou a apresentar os sintomas de mutismo seletivo com 4 anos de idade. Segundo sua mãe Valquíria, de 45 anos, a menina sempre foi tímida, mas quando a família se mudou para Sorocaba o quadro se agravou. “Ela não falava com ninguém na escola e parou de falar com pessoas próximas, como o avô”, conta a mãe. Preocupada, ela levou a filha ao psiquiatra. Com 7 anos de acompanhamento, a menina já conversa com os amigos na escola, mas ainda têm dificuldade para falar com adultos e desconhecidos.
“O tratamento é longo e as melhoras são imediatas. Ela tem uma coisa de fobia mesmo, é muito forte. Ela tinha dificuldade até para pedir para ir ao banheiro na sala de aula”. Segundo a psicóloga clínica Elisa Neiva de Lima Viera (veja entrevista abaixo), o caso se diferencia da timidez por apresentar sintomas fóbicos. “Uma criança tímida ainda interage socialmente, a que sofre de mutismo seletivo, não”, explica.
ENTREVISTA
Elisa Neiva de Lima Vieira, psicóloga clínica, que trabalha há mais de 16 anos com crianças com mutismo seletivo
O que é o mutismo seletivo?
O mutismo seletivo é o fracasso persistente em falar em situações sociais específicas como na escola, com colegas, durante brincadeiras. É ligeiramente mais frequente no sexo feminino e acomete aproximadamente 1% dos indivíduos, no contexto da saúde mental. Entretanto, pesquisas recentes na área mostram que a prevalência do mutismo seletivo está estimada em 3 a 8 por 10.000 crianças. Falar sobre mutismo seletivo no Brasil ainda é algo bastante novo em termos de saúde mental. A maior parte dos estudos e pesquisas estão relacionados a grandes centros dos EUA. A prática clínica me levou a observar que crianças com mutismo seletivo podem ter outras desordens emocionais associadas, como sintomas depressivos, transtorno obsessivo compulsivo, entre outros.
Como os pais podem perceber?
Os pais desconfiam e saem em busca de respostas e soluções para a situação. Por ainda se tratar de uma condição considerada como rara, o mutismo seletivo pode ser confundido com um excesso de timidez, até que os pais começam a notar que existe um sofrimento grande em seus filhos, que seu circulo de amizades é praticamente inexistente havendo falhas ou impedimento de comunicação principalmente no âmbito escolar. Geralmente é a escola que dá o sinal de alerta, o que corrobora com observações feitas pelos pais. Aí sim começa a uma busca pelo significado. Os pais podem ficar atentos a comportamentos diferenciados de seus filhos partindo em busca de profissionais que possam fazer o diagnóstico.
Quais são os sintomas?
Geralmente a criança diminui seu contato verbal com as pessoas de seu círculo social permanecendo apenas em contato com o núcleo familiar. Em alguns casos, ela para de falar também com familiares próximos, como tios, avós e primos. Seleciona geralmente pessoas que lhe tragam conforto e segurança para manter o contato verbal. Alguns autores chegam a considerar um problema de comunicação ou estados de ansiedade vivenciado pela criança. Ele pode ser caracterizado por timidez excessiva, alto grau de dependência dos pais, acessos de birra, raiva e agressividade, isolamento social, tristeza, excessiva rigidez e perfeccionismo.
Quais diferenças da timidez e do mutismo?
A timidez traz um desconforto, inibição em situações sociais que podem interferir na realização de objetivos, desejos, mas que são superadas gradualmente. A criança tímida pode ter um núcleo social reduzido, poucos contatos, mas é uma criança que se comunica verbalmente, se faz compreender e não se compromete integralmente. A criança com mutismo seletivo se isola, não se comunica, sussurra com os pais na frente de estranhos, não solicita os professores para ir ao banheiro, por exemplo, e se coloca em isolamento e riso social. Neste ponto eu ressalto que existem casos mais graves e casos menos graves de mutismo seletivo.
Como os pais podem perceber que não é uma simples timidez?
Quando os pais estão realmente sintonizados com as necessidades emocionais de seus filhos eles acabam percebendo que algo está além do que é o “esperado”, pois eles próprios se sentem inquietos impotentes. Algo está além de uma tristeza, de uma depressão ou de uma timidez. Eu tenho tido a felicidade de viver com pais que se dedicam, que buscam juntamente comigo e com seus filhos a compreensão do que está de fato acontecendo. Eles são meu norte, o paciente é meu norte caso contrário não há relação terapêutica estabelecida e o trabalho não irá prosperar. É imprescindível que os pais também tenham um acompanhamento psicológico.
Quais são as principais causas?
Não há uma causa específica. Ao longo de 16 anos atendendo crianças com mutismo seletivo, percebi que existe uma grande ligação entre a criança e a mãe e que a separação desta dupla é quase que uma mutilação emocional para ambos. Em outros casos vemos famílias fragmentadas, pais com dificuldade parental e de relacionamento e não devemos perder de vista os quesitos genéticos e hereditários. É bastante comum os pais relatarem casos de extrema timidez em sua vida pregressa, outros relatam síndrome do pânico. Todo este mega constructo emocional reflete diretamente na criança em formação.
Qual a faixa etária das crianças que apresentam os sintomas?
Geralmente se inicia por volta dos 3 a 5 anos de idade podendo persistir até a adolescência.
Como é feito o tratamento?
O tratamento para mutismo seletivo tem sido descrito de diversas maneiras. Eu acredito que é imprescindível que você sinta, perceba o que seu paciente lhe pede. Depois de estabelecida uma boa relação terapêutica, é possível desenhar um tratamento adequado para aquela criança, lembrando que cada caso é um caso diferenciado. Geralmente os psicólogos que trabalham com mutismo seletivo também se sentem bastante angustiados e ansiosos. Minha experiência clínica revela que técnicas relacionadas à arte terapia, psicodrama, psicoterapia corporal, técnicas que valorizam outros tipos de expressão que não sejam somente a verbal tem tido bastante êxito. O trabalho em conjunto com um profissional especialista em psiquiatria da infância e adolescência é de extrema importância para que possamos ter um diagnóstico diferencial e conduzir o caso da maneira mais adequada, sendo que muitas vezes é necessário que façamos uso de medicação especifica. Técnicas alternativas de relaxamento, yoga para crianças também são muito bem vindas.



4 comentários:

  1. Amei, muito esclarecedor!!!Minha filha tem mutismo seletivo e a primeira pessoa a diagnostica-la fomos eu e meu esposo...Assisti um programa na TV, no Discovery "Minha filha nao fala" e vimos um retrato exato ao de nossa filha...Meu esposo era muito timido quando crianca e eu tenho historico familiar de panico e depressao...Mas estamos ficando mais fortes com isso . Um abraco!!!

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  2. Minha filha passou parao Ensino Fundamental !!
    Levei para uma psicológa porque ela não falava com ninguém estranho ,só comigo ,o pai, a avó e o avô.
    Aqui em SAlvador - Bahia, não tem especialistas que lidem com o problema, consegui um tratamento pelo SUS numa clínica chamada CURE, e ela vem fazendo tratamento há 3 anos, com a psicol[oga.Consiste em ficar montando jogos, jogando cartas com outras crianças.
    Não sei se foi devido ao tratamento ou evolução normal do caso, ela hoje se comunica com todas as crianças da rua, com adultos que trabalham aqui em casa, com pessoas estranhas que tenho contato nos médicos, no ônibus.Porém na Clinica na qual faz tramento nunca deu uma palavra e nem na escola.
    Na escola posso dizer que evoluiu, pois brinca muito com as outras meninas, participa de trabalhos segurando cartazes, seapresentou dançando...mas não fala,a pró Mira falou que pode ser porque todos estão acostumados com ela não falar.
    Vim até aqui pedir um conselho pois a coordenadora , está pegando no meu pé, primeiro exigiu um papel da clínica comunicando aos professores do ginásio que ela tem mutismo seletivo e por isto deveria ser avaliada de outra forma, solicitei e levei até a escola, agora me disse que a psicológa nunca foi até a escola, que ela deveria ter ido,e que tem 3 anos de tratamento e Alice ainda não fala, mas sei que o tratamento é demorado, falei isto a ela, mas ela disse que são muitos professores, cada um tem uma personalidade, que tinha que resolver isto,pois não será igual ao fundamental I ,que só é uma pró.
    No meu ponto de vista, os direitos de minha filha estão assegurados, desde que foi diagnosticado o mutismo seltivo, e que a psicologa na maior boa vontade encaminhou os papeis necessários para a escola, não sei se estou errada ,mas nunca soube de psicologos que fossem até a escola e sim de professorres que fossem até a clínica para ajudar as crianças com mutismo seletivo.
    O que ela quis dizer é que minha filha vai para o ensino fundamental 2 e tem que falar, senão alguns professores podem pressioná-la, mamães , como posso agir para que minha filha não seja cobrada de um problema que não consegue controlar????Como incentivá-la a falar na Escola???

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    1. A psicologa da minha filha ia a escola em 2 anos foi umas 4 vezes e observava comportamento dela la com as outras crianças, orientava a diretora e professores

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  3. Rosiane,
    Você precisa levar para escola o relatório da pscicóloga, detalhando como é o Mutismo Seletivo, quais as caracteristicas e como é o tratamento.
    A pressão escolar só vai piorar o quadro, e a compreensão tem que começar pela diretoria. Cabe à diretora, conversar e explicar a situação aos professores. É a escola que tem que se adaptar à sua filha, e não o contrário.
    Se isso não resolver, procure a delegacia de ensino.

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